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A arte da guerra (para casais)
#022 - Como brigar de forma eficaz evolui o relacionamento

Quarta-feira, 24 de janeiro de 2025 às 19:26.
Niterói, Rio de Janeiro, Brasil.
Essa semana falei com a Julia que precisamos brigar mais e com mais frequência. Estranho, né?
Provavelmente você e seu cônjuge já brigaram (usarei cônjuge, mas, se não tem, substitua o entendimento por alguém que você se importa).
Provavelmente, também, vocês arrumaram estratégias para não brigar mais a qualquer custo. É do jeito carioca, brasileiro também, fazer de tudo para não entrar em uma briga.
Nesse email vou defender o porquê dessa visão e contar alguns passos para tornar uma briga em uma conversa produtiva.
O gatilho
Estava em um sábado em casa com as crianças pela manhã. Era férias, a casa uma zona. Julia havia saído e voltou e a casa no mesmo estado, contrariando uma expectativa de que poderia estar melhor.
Uma tensão se cria quando a expectativa é diferente da realidade. Tínhamos uma tensão criada então (eu ainda sem saber).
Em algum momento, no nosso quarto, algum gatilho desencadeou a tensão e ela verbalizou. Foi um rio de tensões juntas, coisas amontoadas que ao falar vão surgindo outras. Essas tensões, como no corpo, se acumulam e, se acumularem demais, podem virar doença - é bom que saiam.
Problema
Porém, foi um episódio ótimo e nos ajudou a ter um jantar a dois fantástico dois dias depois! Como, então, transformar um possível caos em uma melhoria no relacionamento?
Se estiver despreparado para lidar com isso, esses casos podem entrar em uma espiral negativa de brigas, discussões, ou PIOR - a apatia. Apatia é não se importar, e até uma briga é melhor do que isso, pois quem briga está ainda se importando.
Nós dois temos um lema “os opostos se distraem e os dispostos se atraem (O Teatro Mágico)”. Enquanto houver disposição estamos bem, tem que ter disposição para resolver.
Ao final deixarei dicas práticas para apoiar essas resoluções. Siga abaixo.
O caos inerente e o casamento antifrágil
Tem casais que tomam pancada e quebram, são frágeis como um copo de cristal.
Tem casais que tomam pancada e aguentam tudo, são robustos como uma pedra.
Fomos um casal antifrágil - que toma pancada e melhora.
O contrário de frágil não é forte, ou robusto. O contrário de frágil, segundo Nassim Taleb, é Antifrágil - aquilo que se beneficia com o caos e a volatilidade.
Tenho falado que “a insatisfação é o primeiro passo para o progresso”. É onde tudo começa. A partir dela, perceber nossos sentimentos e emoções e criar consciência disso, podemos (1) reclamar ou (2) agir.
Porém, realizei que não vivemos em um monastério, é impossível “seguir a cartilha” todas as vezes. Faz parte da vida a volatilidade, mesmo que em geral busquemos um equilíbrio. Em todo esforço de evolução, acho importante ter também esse olhar de “tá tudo bem” se não tiver tudo bem. Tem vezes que as coisas saem do controle, tem vezes que não queremos conversar, nem sempre é uma regra - e é bom que não seja, pois viver já nos traz desafios demais.
Portanto, assumindo que nem sempre conseguiremos lidar da melhor forma, que a vida é volátil - e tudo bem -, isso nos dá a consciência de agir quando algo foge do controle.
Um caminho - desligue o disjuntor antes de conversar
Imagine seu relacionamento como um circuito elétrico. Na sua casa tem disjuntores com certeza. Se ainda não sabe para que servem, eles protegem sua rede de curtos ou tensões inesperadas (volatilidade acima do normal).
Se alguma tensão está acumulada na rede do seu relacionamento, saiba que você pode SER disjuntor e proteger essa rede, que você tanto ama e quer proteger.
Como?
Fique atento às “tensões” em si e no outro. Quando uma “tensão” é verbalizada, ela pode danificar a sua rede relacional, portanto o primeiro passo é agir desligando o disjuntor em si. Não piore a situação, seja apoio, com as seguintes dicas:
Não leve para o pessoal (mesmo que pareça)
Apenas ouça, sem julgar (esqueça de si mesmo, não é sobre você)
Ouça de verdade, querendo entender, não ouça para responder
Não retruque, não é o momento, mesmo que não concorde
Lembre que você se importa e é uma maratona para a vida, não existe “vencedor”
Controle suas emoções - seu corpo fala - pense que em cada palavra a pessoa está pedindo ajuda
Esboce reação e demonstre se importar (apenas ouvir e falar “ta bem” pode só piorar). Diga “Entendi que se sentiu XXX com isso, certo? Tenho algumas considerações também mas vou combinar de falarmos melhor depois”. Faça algum contato físico, se o momento permitir (um abraço, por exemplo).
Depois que o momento inicial passar, você pode religar o disjuntor em si mesmo e buscar caminhos. Apenas ouvir ajuda, mas não resolve completamente.
Anote o que ouviu e discordou, como se sentiu e o que vê diferente. Não se trata de vingança, um feedback baseado em fatos é mais eficaz.
Crie um momento, mesmo que dias depois, para encarar a conversa. Esse passo já é difícil, encare esses conflitos. É mais fácil deixar para lá e fazer um “bico”, esperar a pessoa tomar iniciativa. Mas lembre-se de estar disposto.
Ao conversar, a mentalidade não é de estar certo, é de dialogar sobre os sentimentos de cada um, ninguém sairá vencedor ou perdedor.
Ao falar, diga como se sentiu em primeira pessoa “quando você falou XXX eu me senti YYY, pois ZZZ”. Falar como se sente com o que a pessoa falou é uma forma de agir de forma autorresponsável. Nenhuma briga se cria com duas pessoas falando em primeira pessoa.
Mantenham um ambiente de escuta, sem certezas ou “razão”, ninguém vai “ganhar” - é um diálogo de duas pessoas querendo evoluir a si mesmas, que se encontram na conversa espelhos para isso.
Se for sair apenas com um dever de casa, lembre-se de, quando houver uma próxima conversa acalorada, desligar o disjuntor em você e protejer a sua rede.
Aproveite as brigas para se fortalecerem. Faz sentido?
Abraços,
Pedro (e Julia, pois não postaria isso sem perguntar a ela).
Esse post me rendeu duas notas na minha caixa de notas:

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