Sobre (des)envolvimento profissional

Imagine-se com 22 anos, vivendo hoje nesse excesso de informação e buscando um lugar ao sol profissionalmente. Todos dizem que a IA vai roubar seu trabalho.

No Instagram todos são felizes e bem sucedidos. No mercado, nos bares - ou no Ifood - tudo está caro.

Talvez a analogia sirva para outras épocas também, mas a ascensão das mídias sociais acredito ter piorado a sensação para os jovens que todos estão bem menos ele.

Já falamos disso por aqui, vivemos uma época “pobre em negatividades”. O foco em se desenvolver profissionalmente talvez se contamine com isso também:

• Fazer mais cursos

• Ser e se mostrar sempre melhor

• Montar um plano de desenvolvimento

Todos querem uma carreira de sucesso, certo?

O que é o desenvolvimento profissional? Como se desenvolver?

Se envolver mais do que se desenvolver

Essa semana li um texto do Alex Bretas que realmente atravessou aqui.

Ele coloca essa provocação entre desenvolvimento e envolvimento.

Achei interessante, realmente desenvolvimento carrega algo que é empurrado, no lugar disso ele traz o envolvimento:

Em 12 anos e tendo passado por 9 empresas, eu nunca fiz o que se chama de PDI - Plano de Desenvolvimento Individual. Até já fiz, mas não segui. Talvez tenha sido bom para uma intenção inicial, mas me parece uma visão cartesiana demais para o ambiente complexo que é o mundo do trabalho do conhecimento.

A criação de si mesmo é algo complexo. Me parece fazer mais sentido realmente se envolver mais e focar menos em se desenvolver, pois o desenvolvimento será natural a partir do envolvimento.

Não quero dizer que não vale planejar. Especialmente o processo de Coaching que fiz em 2014 foi muito rico para conduzir futuros possíveis, mas não era um plano propriamente dito.

Não olhar para frente - Os aprendizados de Steve Jobs

Steve Jobs tem um famoso discurso na faculdade de Stanford em 2005. É simplesmente maravilhoso. Indico salvar aí para ver depois ele inteiro (está ao final do email).

Ele fala sobre muitas coisas, mas há dois pontos que considero fundamentais ao pensar em desenvolvimento de carreira:

1) Você nunca consegue conectar os pontos olhando para frente, apenas em retrospecto

Poucas pessoas sabem talvez, mas o Steve Jobs fez um curso de caligrafia mesmo adulto. Interessava a ele conhecer as formas, o design, os contornos das letras. Como isso se conecta com sistemas da computação, por exemplo? Difícil de imaginar, né?

Se você fosse gerente na área de TI, você faria um PDI (um Plano de Desenvolvimento Individual) para um estagiário de seu time contemplando caligrafia? Imagino que não - eu pelo menos não pensaria.

Acontece que isso ajudou ele a pensar no que levou a construir o Mac e o sistema operacional, que hoje é famoso pela usabilidade.

Segundo o Steve Jobs, falando de carreira, não tem como conectar hoje os pontos no futuro. Você precisa de alguma forma crer que no futuro as coisas irão se conectar, pois só conseguimos ver as conexões olhando para o passado.

O que isso ensina sobre o futuro profissional? Que não é possível predizer o caminho, precisa caminhar e o caminho vai se abrindo.

Tem uma música muito bonita que deixo ao final do email que fala sobre isso:

2) Mantenha-se curioso e com vontade, e mantenha-se sempre aberto a aprender

Suas últimas palavras no vídeo foram: “Stay hungry, stay foolish”.

Traduzindo, seria algo como “mantenha-se curioso e com vontade, e mantenha-se sempre aberto a aprender”.

Se você faz um plano e quer seguir à risca, sem desvios, você está matando a curiosidade, o acaso, as conexões repentinas não previstas que podem lhe abrir caminhos.

Minha história pessoal se conecta muito com isso.

Tentando resumir 12 anos em um parágrafo: Me formei em Arquitetura e Urbanismo, trabalhei com bolsa de pesquisa, gostei de gestão de projetos em uma construtura. Fui para um projeto trabalhar com gestão. Gostei, fiquei em dúvida, pedi demissão e decidi novos caminhos. Fiz curso de muita coisa e experienciei muitos lugares. Criei um blog e não dei continuidade. Voltei para onde a curiosidade já tinha passado, a gestão ágil. Fiz mestrado. Trabalhei como consultor, não “deu certo”. Trabalhei com design em uma startup que “não deu certo”. Fui para uma multinacional e lá fiz de tudo um pouco. Abri uma startup que faliu. Foquei na área que estava me dando curiosidade e troquei de empresa. Recomecei um projeto de criar conteúdo online….e vamos caminhando…

Pensei um pouco em o que fez eu me desenvolver profissionalmente, e deixo aqui meus pensamentos e dicas que daria aos meus filhos:

• Mesmo sabendo muito, na frente de outro ser humano, seja humano

• Fazer sempre bem feito e dar o seu melhor possível

• Não reclamar, buscar resolver os problemas que aparecem

• Ficar atento ao que gera interesse e curiosidade

• Compartilhar o que sabe e ajudar sem querer nada em troca

• Aprender coisas novas

• Praticar em primeiro lugar, seja bom em entregar o que precisa ser feito

• Saber a hora de mudar de ambiente e cuidar de si

• Nunca julgar uma pessoa sem ter vivido

E, conectando com esse texto de hoje, busque se envolver com o que aparece, fique atento à sua curiosidade e siga ela.

Seguindo essa lista, não se preocupe com o futuro, confie que os pontos se conectarão.

Faz sentido?

Vídeo do Steve Jobs:

Música do Chico César que fala sobre “conhecer os caminhos andando..”: