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O problema do ser, do destino e da dor
Os principais insights do livro para a vida e dia a dia

Gosto tanto de ler e aprender que no mestrado eu li um livro chamado “Como Ler Livros”. Na verdade esse é um clássico que ainda comentarei sobre essa arte que é a leitura.
Estive bem ocupado nas últimas semanas e, pensando no texto a trazer para esse domingo, pensei em um formato diferente, trazendo minhas notas e observações sobre um livro (depois me contem se gostam assim 😉, ficou maior do que eu esperava).
Nesse texto vou falar sobre o livro "O problema do ser, do destino e da dor" de Leon Denis. É um livro grande, de 413 páginas. O autor era espírita e o livro também aborda questões à luz do espiritismo, mas foi escrito em vida pelo próprio Leon Denis.
Qual o problema que quer resolver?
Segundo o autor não somos ensinados - pelas universidades e líderes religiosos -, de coisas importantes como “a direção da existência terrestre e a preparação para o além”. A educação não “esclarece o caminho da vida e não as estimula para as lutas da existência”.
Se temas como sentido da vida, propósito evolutivo e outros da evolução humana são tão importantes (ou até indispensáveis para uma boa vida), o autor questiona e parte dessa lacuna para trazer reflexões e propostas sobre esses temas.
A educação não esclarece o caminho da vida e não as estimula para as lutas da existência
O livro como um todo fala sobre o que?
Em geral há um argumento central por trás, o autor busca evidenciar o espiritismo como caminho para a evolução humana. Aborda diversos temas como personalidade, alma, sentido da vida, da dor, destino, vontade e etc, mas sempre usando como pano de fundo argumentos para validar a doutrina espírita.
Como está estruturado
Possui uma breve introdução, 3 grandes blocos e os capítulos:
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Os temas são transversais e não vi conexão com o capítulo em si, mas as três partes podem ser resumidas de uma forma macro em:
Parte 1 (O problema do ser): comenta questões da vida e morte, alma, sentido da vida e preparação em vida para o além;
Parte 2 (O problema do destino): Foca muito em provas e evidências do próprio espiritismo, com temas como base (como a desigualdade, a maldade e etc);
Parte 3 (O problema da dor): Como a dor ajuda na evolução e reflexões sobre temas importantes para a evolução humana;
Não possui conclusão por capítulo e a escrita em si, por mais que não seja difícil, também não é super fácil de pegar em uma leitura inspecional rápida.
E daí? Em que me impactou?
Trarei aqui as principais notas que fiz do livro, aquelas partes que me saltaram os olhos e levarei como aprendizado.
Lembrando que não é um resumo, são literalmente as notas que fiz para que vocês possam ter acesso ao conteúdo com o meu olhar, mas não substitui a leitura.
Provas da existência da alma

Quando eu falei “notas”, são literalmente notas mesmo. Estou trabalhando em um sistema de notas por meio de cartões físicos (se interessar me avise e conto mais depois).
Há uma discussão interessante no livro onde ele busca trazer provas da existência da alma, como:
A matéria não pode gerar qualidades que não tem (falando contra correntes materialistas por exemplo). Não somos um conjunto de átomos apenas, pois ao se agruparem ganhamos propriedades emergentes que não constam em nenhum nível.
Como um conjunto de elementos da tabela periódica, ou poeira de estrelas, como nós, pode gerar esse nível de pensamento, escrita, beleza e arte? A consciência em si…
A noção inata para o bem. Como, se fossemos apenas um conjunto de átomos sem uma alma ou consciência maior, justificar desde criança ter a noção do que é justiça e caridade?
Havendo uma alma, essa é destinada à perfeição, a conhecer tudo de belo e explorar o universo, como fazer isso em uma vida só apenas? (colocando um argumento não só para existência da alma quanto para a eternidade do espírito)
Sobre a morte
O autor coloca uma visão onde “os mortos são os vivos do céu” e que a morte é na verdade uma liberdade do espírito. Em última análise ele coloca que a morte não existe. Como estamos vivos é difícil conceber o que há depois da vida, mas eu gosto da ideia de que há algo além.
“A morte é um eclipse momentâneo nessa grande revolução de nossas existências. Mas esse instante é o suficiente para nos revelar o sentido grave e profundo da vida.”
Se pensarmos que em algum momento do universo não haviam humanos, e em alguns bilhões de anos a Terra estará inabitável, em algum momento a raça humana como um todo deixará de existir também. Que sentido teria uma existência que acaba na morte olhando por essa perspectiva? Para que viemos aqui?
Segundo o autor conhecer sobre o além vida ajuda a abreviar o sofrimento. Não deixa de ser um conforto ao pensar nas pessoas queridas que perdemos em vida.
Ninguém vem te salvar ou julgar
Segundo o autor ninguém vem te salvar ou te julgar pelos teus atos. A tua própria consciência será tua juíza. “O conhecimento de si mesmo é a única punição e única recompensa do homem”.
O conhecimento de si mesmo é a única punição e única recompensa do homem.
Isso coloca o destino em nossas mãos, sem vitimismo. “Tua obra mais bela é tu mesmo” cita o autor. Obviamente ainda haverá as leis universais, mas a escolha das ações são nossas.
Nosso legado, nossas ações, nossa conduta em vida falará sobre quem fomos, e o único juiz disso tudo seremos nós mesmos. Achei esse tema interessante pois coloca a autorresponsabilidade como um tema universal.
O “eu comum”, o “eu total” e a “alma universal”

Esse vale a imagem, foi um dos insights mais interessantes para mim. Vou tentar representar aqui:
A nossa Alma, dividida em dois aspectos:
O EU comum: A parte exterior da alma, a personalidade, nossas paixões e fraquezas. Esse se modifica a todo momento, mas mantém uma unidade central.
O EU total: Interior e profundo, imutável, sede da consciência. Dele provém nossas aspirações mais elevadas, nosso desejo de saber nunca satisfeito, nosso sentimento do belo e do bem.
A Alma Universal: Apesar de não trazer descrições parece óbvio supor que seria o divino, que tangencia a todos nós. Nas palavras da Lucia Helena Galvão seria o “cosmos” e não o “caos”.
“A alma se liga, na sua essência, à grande Alma Universal e eterna, da qual ela é como uma vibração. (…) Sob a superfície do eu, agitada pelos desejos, esperanças e temores, está o santuário onde reina a alma integral, calma, pacífica, serena, o princípio da sabedoria e da razão (…). Todo o segredo da felicidade e da perfeição está na identificação, na fusão em nós desses dois planos ou focos psíquicos. No seu desconhecimento reside a causa de todos os nossos males, de todas as nossas misérias morais."
Essa ideia do “eu comum” e “eu total” faz bastante sentido e para mim gera a curiosidade do que o meu “eu total” busca nas várias modificações do “eu comum”, como um sentido da alma e não da vida apenas.
Tá, posso estar viajando muito, espero que esteja ainda aqui comigo. Mas se fizer algum sentido me dá um feedback.
O pensamento é criador
O pensamento cria tudo. Por isso, para nos dirigirmos à alma universal, precisamos controlar e dirigir os pensamentos.
Não há assunto mais importante do que o estudo do pensamento , de seus poderes, de sua ação. Ele é a causa inicial de nossa elevação ou de nosso rebaixamento.
Antes de tudo, é preciso aprender a controlar nossos pensamentos, a discipliná-los, a lhes imprimir uma direção precisa, um objetivo nobre e digno.
O estudo silencioso e recolhido é sempre fecundado pelo desenvolvimento do pensamento. (…) Há ao redor do pensador grandes seres espirituais que só querem inspirá-lo; é na alvorada das horas tranquilas, ou então sob a luz discreta da sua lâmpada de trabalho, que melhor podem entrar em comunicação com ele. Em toda parte e sempre, uma vida oculta se mistura com a nossa.
Entre o o “eu comum” e o “eu total”, fiz a conexão com esse trecho que a observação de si, dos pensamentos, os momentos de estudos profundos e focaros, são formas de acessar a “alma universal” e o “eu total”.
Particularmente me energizo nesses momentos, como esse agora ao escrever e retomar estudos. Mas não o estudo para passar em uma prova, o estudo conectado à vontade do “eu profundo”.
O caminho de evolução
Se existe uma alma universal, todos estamos caminhando no sentido dela. A alma objetiva a perfeição e evolução, todos temos esse gênio interno.
O que gosto dessa passagem é que, indiscutivelmente, não viemos nessa vida a passeio!
A curiosidade, a aprendizagem, o trabalho duro no mais duro dos trabalhos - que é o de se criar e se melhorar, não é algo acessório, é o grande objetivo de nossas vidas.
O ser deve se aperfeiçoar, embelezar sem parar sua natureza íntima, aumentar seu valor próprio, construir o edifício de sua consciência: tal é o objetivo de sua evolução.
Cada um de nós possui esse gênio particular (…) a aptidão primordial de todo ser para realizar uma das formas especiais do pensamento divino.
Deus depositou no fundo da alma os germens das faculdades poderosas e variadas; todavia, há uma das formas de seu gênio que é chamada a desenvolver acima de todas as outras, por um trabalho constante, até que a tenha elevado ao seu ponto de excelência.
As missões do ser, seu destino, sua ação na evolução geral se mostrarão cada vez mais no sentido de suas aptidões próprias, aptidões latentes e confusas no início de seu curso, mas que vão despertar, crescer, acentuar-se, à medida que percorrer a imensa espiral.
As intuições, as inpirações que receber do “alto” corresponderão a esse lado especial de seu caráter. Conforme suas necessidades e apelos, é sob essa forma que sentirá, do fundo de si mesmo, a divina melodia.
Esse trecho é muito bonito, pois fala das missões do ser, que parecem confusas no início, essa missão no caminho da divina melodia.
Acessando o “eu profundo” pela ação - a vontade
Na edição #002 falei sobre isso, mas a conexão com os outros pontos aqui faz sentido.
Se existe a alma universal, como o “eu comum” acessa ela? O livro não cita mas aqui entra na minha visão as sincronicidades e simbolismo perfeitamente.
Mas, como falado na edição #003, não adianta ver sinais, precisamos perseguí-los, dar o passo em direção.
Como poremos em movimento esses poderes interiores e os orientamos para um ideal elevado? Pela vontade!
É pela vontade que dirigimos nossos pensamentos para um objetivo preciso.
"A vontade é o maior de todos os poderes. Em sua ação, ela é comparável a um imã. A vontade de viver, de desenvolver em si a vida, atrai para nós novos recursos vitais. Está aí o segredo da lei da evolução.
O princípio de evolução não está na matéria, está na vontade, cuja ação se estende tanto à ordem invisível das coisas quanto à ordem visível e material.
A minha leitura sobre isso é que a vontade é aquela pulga atrás da orelha, que se concretiza na ação. Se evoluir é nosso papel, e, se identificar e desenvolver essas vontades e aptidões são o “como”, me parece que é um tema vital para nossa sociedade.
Como observar as vontades que tem aparecido?
Como percorrer o caminho? O que esse caminho fala sobre seu “eu profundo”?
Parecem temas acessórios ou puramente filosóficos, mas para mim conecta os “quereres” mundanos a essa “melodia universal”, o que faz muito sentido.
A dor como motor
Segundo o autor, todos os nossos males (individuais e coletivos) vem de agirmos em sentido oposto à corrente divina - essa alma universal. Ao entrar nessa corrente, a dor desaparece com suas causas.
A dor e o sofrimento viriam para nós como algo a nos lembrar potenciais desenvolvimentos. Não é que ela não vai existir, mas podemos tornar a dor mais bela, convidar ela e ouvir o que ela tem a dizer sobre nossa vida.
Entender o que vem de dor e sofrimento em nossas vidas como lições, como algo a ouvir, muda radicalmente a perspectiva, retira o vitimismo. Da mesma forma que a dor física nos sinaliza perigos ao corpo a dor e sofrimentos internos convidam aos perigos ao corpo universal, ao nosso “eu total”.
Conclusão e críticas
Eu comprei pois fui indicado, é um livro pouco famoso e divulgado (nunca tinha ouvido falar). Tirei ótimos insights, como comentado acima. Não sei se teria comprado sem indicação, e não sei se indico a qualquer um também, mas hoje ele tem um lugar especial na minha estante!
Se eu indicaria e para quem? (i) Pessoas interessadas em argumentos sobre o espiritismo e histórias embasando o mesmo, e (ii) Pessoas interessadas em reflexões sobre propósito e sentido da vida terão insights valiosos.
Minha crítica principal é que o autor não busca demonstrar seus vieses e parte de algumas premissas como verdade absoluta, reverenciando a doutrina espírita como algo que veio para “salvar a humanidade”. Por mais que eu concorde e seja alinhado com o espiritismo faz parte da humildade intelectual demonstrar seus vieses e dialogar com quem possa ter diferentes vieses e premissas. Se você ler ciente dessa visão do autor, vai conseguir extrair os insights sem necessariamente concordar com ele em tudo.
A estrutura do livro também não tem um fio condutor e faltam para mim habilidades de início/meio/fim no autor, o que torna a leitura mais pesada do que poderia ser. Muitos trechos se repetem, alguns você não entende a conexão com o todo.
Sabendo desses dois pontos, você já fica mais ciente do que esperar e pode inciar a jornada de leitura.
Se você leu até aqui, primeiro parabéns pela dedicação para além dos poucos segundos dos stories, você é uma pessoa para quem certamente escrevo, interessada em evolução e aprendizado, então me diga o que achou do formato 🙌.
Até a próxima!
Espaço de conexões - meu download mental
Curadoria de coisas que podem fazer sentido. O que estou consumindo e dicas de links:
Após o texto do último domingo muitas pessoas mandaram dicas e links:
Matéria sobre 5 arrependimentos mais comuns das pessoas ao fim da vida (dica da Fernanda Grillo)
Dicas de livros da Marta Rossi sobre o tema:
Dica do livro pelo Vinicius Moretti
Continuo ouvindo a palestra do Youtube: Os símbolos e as chaves de sincronicidade (Lúcia Helena galvão sobre a linguagem da vida)
Continuo lendo o livro: Antinet Zettelkasten (sobre método analógico de gestão do conhecimento pessoal)
Continuo ouvindo essa playlist para focar: Productivity Music (estou viciado nessa playlist para trabalho focado)
Comecei a testar o modelo em vídeo também se interessar no canal no YouTube. Acompanhe também no Instagram.
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